Passeio pela vida ao som de passos leves,
O que tenho é o que encontro perante o espelho
ou o que vejo de olhos bem fechados quando fixos na lembrança de alguns sorrisos.
Sinto a urgência casual da vida em tudo que os homens fazem pequeno.
Caminho errático entre seres imperfeitos ensaiando frases de boa vontade e poemas de louvor ao belo.
Ouço o vento como quem ouve música, e ouço música como quem ouve alguma variante da voz divina.
Ando sem companhia sem nunca estar só.
Não tenho lugar exato em nenhuma realidade, e faço do desdém minha resposta intelectual à necessidade de uma explicação exata ao que quer que seja.
A única coisa exata para qual nasci foi ser inexato.
Tenho feridas de corpo e alma; envaideço-me de ser homem como os outros homens e de ter consciência plena deste fato.
Pertenço a tudo o que existe sem ser alvo de qualquer posse.
Tenho meu Deus particular; escolhi a ética à religião.
Se respeito alguma lei cristã é a do livre arbítrio.
Se me prendo a algum molde é por amor, muito embora quando o amor não
justificar, o humor o fará.
Faço toda questão de admitir minha culpa. A culpa dá peso à minha alma.
Minhas orações costumam descer na enxurrada na forma de barcos de papel.
Sou início infinito com infinitas indefinições, a cada novo dia recomeço.
Morro todas as noites tentando ser eterno.
Renasço ao nascer do sol com a minha inocência posta no papel que redime meu simulacro de príncipe dos moleques.
Minha decepção é não poder ser santo.
Faço da fé um poético ato de devoção que não compra nenhum Deus vendido.
Aos que me encontrarem, se realmente o fizerem, digam que também me procuro.
Aos que não me buscam hei de bater à porta.
Nada hei de querer, pois precisar me basta.
E quando não puderes mais entender-me, escreve sem endereço, a tua própria carta.
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