terça-feira, 26 de abril de 2011

Carta aberta ao velho mundo

Passeio pela vida ao som de passos leves,

O que tenho é o que encontro perante o espelho

ou o que vejo de olhos bem fechados quando fixos na lembrança de alguns sorrisos.

Sinto a urgência casual da vida em tudo que os homens fazem pequeno.

Caminho errático entre seres imperfeitos ensaiando frases de boa vontade e poemas de louvor ao belo.

Ouço o vento como quem ouve música, e ouço música como quem ouve alguma variante da voz divina.

Ando sem companhia sem nunca estar só.

Não tenho lugar exato em nenhuma realidade, e faço do desdém minha resposta intelectual à necessidade de uma explicação exata ao que quer que seja.

A única coisa exata para qual nasci foi ser inexato.

Tenho feridas de corpo e alma; envaideço-me de ser homem como os outros homens e de ter consciência plena deste fato.

Pertenço a tudo o que existe sem ser alvo de qualquer posse.

Tenho meu Deus particular; escolhi a ética à religião.

Se respeito alguma lei cristã é a do livre arbítrio.

Se me prendo a algum molde é por amor, muito embora quando o amor não

justificar, o humor o fará.

Faço toda questão de admitir minha culpa. A culpa dá peso à minha alma.

Minhas orações costumam descer na enxurrada na forma de barcos de papel.

Sou início infinito com infinitas indefinições, a cada novo dia recomeço.

Morro todas as noites tentando ser eterno.

Renasço ao nascer do sol com a minha inocência posta no papel que redime meu simulacro de príncipe dos moleques.

Minha decepção é não poder ser santo.

Faço da fé um poético ato de devoção que não compra nenhum Deus vendido.

Aos que me encontrarem, se realmente o fizerem, digam que também me procuro.

Aos que não me buscam hei de bater à porta.

Nada hei de querer, pois precisar me basta.

E quando não puderes mais entender-me, escreve sem endereço, a tua própria carta.

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