sábado, 27 de agosto de 2011

Infantilidade (ou poema infantil-III)

        Eramos ninguém. Não precisávamos de nomes, nem de um verbete qualquer que se arriscasse a uma aproximada descrição; nem precisávamos de consciência para indicar tudo o que precisávamos fazer, mas não fazíamos por, no fundo, não achar de fato o melhor.
Eramos vento; uma brisa quente e macia que chocava nossas vontades e entre nós tudo movia.
Eramos olhares ansiosos, pedidos de perdão que não sucediam erros, apesar de alguém assim os chamar.
E as desculpas que tínhamos de dar não se deviam a nenhum crime que não o nosso sentir tão mútuo e, a nós, tão desleal.
        Eramos perfeitos à imagem e semelhança dos nossos sonhos, e eramos inocentes a ponto de achar que o resto era só o resto, e que este sempre estaria a quem de nossa real pretensão.
Eramos o meu pretexto e minha convicção em acreditar que os fins justificariam quaisquer meios se fossem nobres.
        Eramos tudo o que tínhamos apesar de nada sermos.
Eramos minha vontade de mudar o mundo e de tê-lo melhor para nós.
Eramos tudo do que posso sentir saudades sem pesares quanto as minhas ações.
Eramos um sentir e também um pensar.
Eramos o teu e o meu coração, indo juntos a nenhum lugar.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Poema pela metade


Eu quero hoje escrever um poema sem classe,
Um poema mesmo de poeta bem pobre,
Daqueles que tornam um mendigo esnobe
Por duvidar da sua mediocridade.
Eu quero escrever um poema miserável,
Realmente infeliz por inteiro,
E não mais um poema pela metade.
Eu quero um assunto, qualquer troço verdadeiro
Que desafie a vã obviedade.
Algo que defina o meu gosto,
Que me dê algum rosto, alguma vontade...
Mas quero hoje algum poema inteiro;
Eu já cansei de escrever pela metade.
Porque, quando é de madrugada,
É sempre o mesmo vazio que me invade.
Eu penso coisas sobre fim e recomeço;
Eu desfio toda a realidade.
Me mostro em cores que não reconheço,
Escrevo versos sobre a santidade;
Relembro um velho amor que não esqueço...
Encontro em mim alguma vaidade.
Mas quando amanhece, ah quando amanhece,
Eu tenho que voltar para a vida.
Mentir a mentira cotidiana e compartilhada;
Fazer caras e bocas para o meu povo,
Trilhando com tudo a estrada do nada.
E é dormir, acordar, fazer de novo...
Não sei se tenho estômago para esta verdade,
Mas quero hoje um poema inteiro;
Eu já cansei de escrever pela metade.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Dominação

Trovões rugiam incansavelmente
Até que suas lágrimas escorressem
Em vales que neles desejassem
E flores cultivar pacificamente

E lutaram quase que no eterno
Contra o “Escolhido Senhor”
Suas luzes superaram
Nas nuvens, a mão do Opressor

Zeus e o Olímpio foram astutos
O tempo não foi longínquo
 Imperceptível se tornou
A derrocada dos pequeninos

O tear, roubado
Os Elíseos, tomado
Os trovões então,
Por si próprios, cegados

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O insensível poema do homem sem lágrimas


Chora.
Eu não posso confortar ninguém hoje;
Eu não posso fingir que sei das coisas,
Ou talvez eu só não queira.
Chora.
Deixe o blues tocar forte a tua alma,
Entre as notas mais limpas e mais sentidas
[da melancolia que é a nossa vida.
Chora vai...
Chora por nós dois o que eu não posso chorar.
Chora a mágoa de saber a mentira que é a civilização
E a loucura que é amar hoje em dia.
Chora que aí, quem sabe, eu possa te dar a mão,
Beber tuas lágrimas,
E dançar contigo de Olhos bem fechados.
Mas chora.
Me prova que alguém se importa com as coisas
[além de si.
Chora para eu saber que a tua dor é uma 
[que se soma entre outras,
E não um mar de egoísmo.
Chora e aí talvez eu sinta saudades do que perdi contigo.
Eu ainda vou estar aqui quando as lágrimas secarem,
Mas, por enquanto, deixe a dor tomar conta de tudo
Para que eu possa sofrer e, se preciso, morrer contigo.
Não me diga uma palavra, não agora.
Apenas chora, chora...


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Aos gentis e carentes com todo amor que me resta


Quero de volta a minha vontade de dizer, de expressar com força a minha opinião, aquela gana para falar de mim como quem sabe e não como quem pensa que esqueceu os detalhes quando são eles que fazem a diferença.
Eu quero o troco. Quero, eu sei, porque já paguei caro demais pelas coisas que não ganhei.
Dura estrada espinhenta,
Canto rouco em verso e prosa;
Sigo sempre em marcha lenta,
Deixo aos espinhos sangue pra rosa.
Eu vou, eu sou durão. Sou muito teimoso para admitir qualquer lógica que me separe dos sonhos.
Os sonhos são o que resta; O mundo é um retrato velho jogado na água e todo dia eu subo à superfície para respirar.
Quem sabe se um dia eu não arrasto o mundo comigo e o meu povo respira?
Quem sabe eu não trago à tona o Brasil de poetas sem teto que passam fome e amam os livros?
Quem sabe eu não possa mostrar que na irmandade da mendicância há muito mais poesia do que na fartura de quem se basta?
Eu preciso é dos miseráveis e dos animais doentes, dessa gente triste e sorridente que ocorre por todos os cantos da minha realidade...
Sabe o que eu descobri? Com esses é que tenho irmandade, e pra esses eu canto!
Rouco, louco...
Muito ou pouco!
Vou rimar quando me der na telha e dizer o que preciso que saibam nas elites, considerando toda forma de expressão, porque eu sou outra voz dos desfortunados e sei que eles precisam não da minha poesia, mas de qualquer poesia que seja para seguir em frente.

Quem sabe não ajudo a puxar o quadro velho e faço do mundo um lugar enfestado de loucos inofensivos e apaixonados, inebriados pela graça e beleza dos clows shakespearianos?
Quem sabe não ensino a certos homens que não é preciso ser santo, apenas bom o bastante?
Quem sabe um dia, alguém não gritará alto meu nome dizendo-me herói de qualquer nobre cruzada, não em nome de qualquer deus, mas em nome do fim da covardia e do esquecimento dos quais há tantas vitimas?
Ah meus amigos, venham comigo, falem exatamente o querem falar, o que precisa ser dito.
Eu apagarei, vocês apagarão. Somos cigarros nas mãos do tempo, queimando devagarinho; morrendo dia após dia, esperando para ser feliz depois, quando a casa da certeza é o agora.
Eu não vou mudar o mundo, eu sei disso, mas eu vou morrer tentando e se alguém vier comigo tudo vai ter valido a pena; Eu não terei sonhado sozinho, gritado sozinho, enlouquecido de amor pelas coisas, pelos necessitados e gentis sozinho.
A minha alma vai nos versos e eu deixo neles o meu legado, prova de que os carentes de sorriso largo tem alguém que os ama, que os bichinhos famintos e inocentes tem alguém que pensa neles e, enquanto eu puder, subirei à superfície para respirar cantando para mim, para eles e para todos os que sentem como eu a necessidade de um quadro novo e de um mundo melhor.

Pedido

Peço que durma agora
Só assim poderá ser
Que dos horrores, possa você,
Desse mundo ir embora

Não me sobrou nenhuma opção
Peço que se cubra na Solidão
Faça por você, por todos nós
Fale! Grite! Não silencie sua voz

Não tens mais que temer
Senão toda pura vaidade
Peço que veja a Verdade
Que seu irmão a faz não ver

Esqueça suas omissões
Não tremule suas ações
Não aguarde que lhe chame
Peço que não se Prolongue

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Maestro


A tua mão me guia
Dançando uma valsa harmônica
Leve como a brisa do dia
O teu movimento me conduz, me convida

No meio ao silencia surgia a melodia
Inaudívelmente tocando em meu coração
Que não sabera eu sequer que existia
Mas tu, em mim, ela encontraste

E eu te sigo em marcha
Em meio ao sol cálido
E embora já cansado
A tua mão me motiva

E não importa onde esteja
Tocando em meio aos dez, aos mil
A nós tu sempre deste a certeza
Sabemos que de tu somos “Filhos Mios”