sexta-feira, 19 de abril de 2013

Carnaval (Enjoo de fevereiro)


“Carnaval, carnaval, carnaval”...
Eu fico triste quando chega o carnaval.
É tanta gente de bem
Fingindo não estar mal;
É tanta falta de senso
Que às vezes de fato penso
Que a gente não faz ideia
Do mundo em que a gente vive.
É tanto morro, favela, declive...
São pessoas que não conheço,
Lugares onde não estive.
E aqui de longe tudo é samba; tudo é festa,
Quando na verdade não se sabe nada.
É tanta gente doente, suja, maltratada;
É tanta necessidade, tanta bondade mal-cultivada.
E o meu povo samba faminto,
Fazendo do descaso algo banal.
São quatro dias de festa
De uma pseudo-inclusão social,
E os beijos infectados, e a música de fundo
Não devem mesmo fazer nenhum mal,
Mas pode crer - é verdade- eu não minto,
No fim das contas sabe o que eu sinto?
Eu fico triste quando chega o carnaval.

Poema de fim de tarde


Um poema de fim de tarde
Um poema de pós- banho,
Cheirosinho, cheirando a  
Desodorante barato;
Um poema de roupa nova,
Esboçando alguma alegria,
Olhando a rua miserável
Com uma esperança de fazer dó.
Relógio no braço.
Ele me diz que, em breve,
O poema se encerra.
O poema diz que ele mente;
Se der sorte vai durar para sempre.
Eu encho os olhos d’água
E o poema se encerra,
Devagarzinho, sem fazer alarde.
Um poema como tantos outros,
Um poema de fim de tarde.