sábado, 22 de março de 2014

Descortesia à brasileira

Tem dias em que a gente acorda
Num mal humor poético,
Num frenesi de descompasso estético,
Sem nem ter língua pra lamber ferida.
Tem dias em que a gente acorda PUTO DA VIDA!
Acordamos pois, sem paciência para nenhuma espera,
Fazendo de qualquer coisa som que reverbera
E que agride ao nosso pensamento.
É meio raiva, meio sussurro, meio lamento...
É algo na casa, no chefe, no firmamento,
No gerente, no presidente, no parlamento...
É algo que, de tão bem constatado, já não se explica.
É papo de pobre, de mendigo, gente rica,
É coisa de seca, de fartura, carro pipa...
São tantas palavras que o metodismo se perde
Em meio à euforia.
E você, meu caro, quem diria,
Se vê condenado a falar impropérios em voz alta.
“PUTA QUE O PARIU, a serenidade faz falta”
Mas o que eu teria se sereno fosse?
Algo de graça, de comportado, de homem doce?
Algo de belo, de paciente, de quem findou-se?
Ou seria mais um fingido,
gracejando uma moral malquista?
É melhor ser passageiro ou maquinista
Quando se discute o próprio destino?

-Sendo homem, homem serei, não mais menino.-

E agora escrevo desleixado,
A um povo acostumado a só lamber ferida.
Tencionando mesmo ser mal educado,
Pois hoje eu acordei meio PUTO DA VIDA.