sábado, 2 de julho de 2011

O triste poema do gênio passional

Sou um cretino, escrevo sobre o mundo,

A vida, galaxias inteiras;

Sobre a fome no nordeste e a violência no centro-oeste;

Falo de cinema, literatura e outras formas de arte;

Sobre modelos socioeconômicos e políticos

E...sou um cretino, talvez o pior deles.

Escrevo sobre bondade e humanidade;

Travo debates sobre Platão com Hedgar;

Falo de jogos, desenhos e coisas da pós-adolescência.

Sabe, eu falo, escrevo, falo...

E o tempo todo o meu peito está apertado,

E eu acho que nunca poderei mesmo pensar nessas coisas

Como deveria.

Porque, sempre que quero mesmo pensar,

Me vem a frase de sempre:

“Na verdade a gente nunca mais se vê...”

E me bate um amargo na boca com uma descrença na vida...

Sou um cretino que passa muito tempo com a boca aberta,

Falando no piloto automático,

E estou sempre preocupado com o fato de que,

Embora te veja sempre, já não te veja mais.

E eu quero ser cidadão do mundo,

Mudar o conceito de humanidade,

Dar um jeito na política e pobreza...

Mas sou um cretino que não pode mudar nem mesmo

O peso da tua ausência presente sobre a própria alma.

E eu sigo o molde, me misturo...

Eu estou sempre entre as pessoas.

Sigo achando-as adoravelmente simplórias

E até fico feliz por isso.

Mas sou um cretino, e gente como eu não pode se dar

Ao luxo de ser feliz muito tempo

(Embora possa fingir- para sempre- se preciso for).

Claro que sabes dessa minha cretinice! Por que outro motivo

Me seria tão distante?

No dia em que sentei à tua porta porta para pedir desculpas

acabou que não saíste o “tu” que eu esperava,

E eu segui de lá para cá remoendo,

Como quem come grãos de café com água de boldo.

A verdade é que, passe o tempo que passe,

Para mim tudo foi ontem.

E eu não consigo pensar no mundo quando lembro

Que você caminha nele.

E foi só um beijo, não foi?

-Não, não foi, não e não!-

Outras bocas depois da tua boca;

Outros corpos depois do teu corpo pequeno,

Cheirando a sexo e doce.

Plutão não é mais um planeta sabia?

Mas sim, minha cretinice é notória e eu tenho

O mau hábito de escrever como penso e rezar

Para que soe como falo.

Eu deveria pensar o universo,

Ascender às alturas em quadros e quadros de

Equações sobre a física quântica,

No entanto, sempre que rabisco sobre o assunto, acabo

Esbarrando em qualquer dimensão onde estamos juntos;

Onde não foi só um beijo louco e roubado;

Onde nossos filhos são lindos e inteligentes,

Leem Voltaire e tocam violino.

Ou onde vamos juntos ao cinema, ou a qualquer

Outro lugar felizes, e onde a força das circunstâncias

Não permita que sumas para sempre da minha vista,

ficando apenas em minha memória e em um punhado

De cartas poema inúteis e choronas,

Como tanto me envergonho de ser.

Eu deveria estar mudando a minha vida, mudando o mundo;

Fazendo algo realmente importante...

Mas eu não vou, porque sou cretino.

E não vou principalmente porque,

Quando eu queria mudar o mundo,

Todos os meus planos passavam por você de alguma forma.

Sem você -para sempre e sempre-

Perdi todas as razões para tentar mudar a mim mesmo

E agora só quero dormir o sono redentor dos cretinos

Que nem sabem o que são.

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