quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A "rosa" e o vento

Pensei em ti sentada na praia,
Trocando cochichos com o vento
Enquanto ele te desarrumava o cabelo.
Pensei em ti de braços abertos
E no toque suave da brisa
Acariciando o teu corpo, teu rosto
E dizendo baixinho no teu ouvido
Da felicidade que é ser o vento
Só para poder esbarrar contigo vez por outra
E te cantar uma canção de amor no seu
Distraído assobio.
E eu juro que pensei por um instante
Que queria ser o vento,
Só para de vez em quando passar
E conversar baixinho contigo
Sobre o que é liberdade;
Só para secar o teu corpo
Quando ele estivesse molhado
Por ínfimas gotinhas d'água,
Escorregando pelas tuas curvas bem feitas,
Ou mesmo te soprar a nuca levemente
Ao acompanhar-te, feliz,
Por todos os cantos da cidade.

-É, o vento...-

E eu que pensei que nada cobiçaria,
Tive inveja do vento
E pedi-lhe um favor de irmão.
Então se sentires uma brisa macia,
Cheia de calor e ternura,
Saibas que é o vento,
levando-te um dos meus beijos,
E a minha melhor oração.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Poema sem recíproca


Não guardo em mim mesmo meu maior segredo,
Nem o maior medo, nem maior amor...
É em ti pra mim que tudo o importa repousa.

Não guardo em mim mesmo minha maior força,
Ou meu melhor pensamento...
É bem verdade quando digo,
Tudo em ti tem de mim qualquer coisa.

Não guardo em mim mesmo minha maior tristeza,
Nem guardo em mim mesmo o meu mais belo sonho.
Em ti tudo deixo por falta de escolha
E resta-me o eco elidido e enfadonho.

Já não guardo em mim mesmo nada de nobre.
Entrego-me e em ti esquecido me deixo;
Te nutro de mim idealista e esnobe,
E à vida te entrego num triste desfecho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A carta rimada


A carta rimada
Guardava um segredo
De vento e verdade
Que a boca não ousa.

Se dito o que escreve
Ecoa no tempo
Falada se perde
E vira outra coisa.

A carta rimada,
Magia de circo,
Haikai disfarçado,
Com algo inexpresso.

A carta rimada,
Me deu calafrios
Trocou-me a danada
A função dos verbos.

A carta rimada,
Tão cheia de vidas,
Tão farta de histórias
De falsos amores.

Com rimas de sangue,
Tão sínica e triste,
Que em seu preto e branco
Mostrou-me outras cores.

A carta rimada,
Não mais um poema,
Prisão de vivente
Em escrito perverso.

A carta rimada,
Uma carta somente,
Que ri descontente
Do autor dos versos.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

The phanton pain (a Ashley Riot)


Perdido em seu próprio labirinto
Como um cão que perseguia a própria calda,
Fez da busca a razão, foi existindo,
E de repente só encontrava em si o nada.

Foi pois guiado pela cegueira inconsciente,
Que fez de si tolo cruzado vigilante,
E prosseguiu como acólito obediente,
Fingindo sempre ignorar a dor constante.

Sua vontade obsessiva e desolada
Tornou-se ódio dito ao falso bem vigente,
E fez da dor a causa eterna a ser lutada,
Sem dar-se conta da verdade inclemente.

Pois segue sempre a doer a dor fantasma,
Fazendo andar o mesmo caminho novamente.