Hoje, 30 de agosto de 2011, fui acordado por um estranho evento que me deixou um tanto sem assunto pelo resto do dia.
Imagine você estar dormindo tranquilamente as 6:30 da manhã, depois de ter ido para a cama às 3:00 da madrugada e ser acordado pelo o som estridente do metal chocando-se renitentemente contra o solo. Agora, imagine levantar, ir até a porta e assistir o movimento de uma pá lançando areia para cima no terreno adjacente ao terreno no qual a sua casa se encontra.
Até aí tudo normal, se não pelo fato de você olhar e se deparar com uma figura idêntica ao Gollum de J.R.R Tolkien, usando uma bermuda e rindo de maneira insana enquanto cava um buraco.
A criatura me observa e, depois de pensar um pouco, fala alto: “Darei a você cinco reais se me ajudar a cavar.”
Depois da frase uma gargalhada alta e frenética irrompeu, que devia ter por objetivo informar-me do óbvio de que aquilo era uma piada.
Não me furtei a responder e o vivente continuou cavando incessantemente. Porém não pude deixar de reparar na forma como o homem ria, alto, como quem realmente perdesse o juízo a cada cinco minutos.
Sentei-me à porta e fiquei observando aquilo que parecia ser a própria representação da felicidade em um riso contínuo.
Observei por mais um tempo tentando captar outras nuances de algo que não entendia bem.
O riso dos loucos, era isso, a mais pura loucura. Um desespero aparentemente inconsciente mostrou-se para mim naquela risada, mesmo com o homem que a perpetrava querendo parecer absolutamente satisfeito.
Era dor pura, em estado bruto, mas nem o próprio ser parecia saber disso.E eu contemplei um homem numa prisão sem grades, um homem de quem eu não sabia nada e que ria alto como se risse para espantar algo.
Eu não pude deixar de pensar no que ele realmente queria ser, em como ele via a própria realidade, a vida, as pessoas que ele amava ou o porque de eu sentir tanto desespero vindo dele; não pude entender o motivo pelo qual ele seguia cavando aquele buraco enquanto ria o riso das hienas; eu não pude deixar pensar em quantas outras pessoas no mundo cantam, dançam, ou mesmo fecham os olhos quando estão desesperadas fazendo todo o possível para dissociar a dor da própria consciência.
E lá estava eu, ouvindo o mesmo riso com um enorme embrulho no estômago, enquanto pensava no porque de as pessoas não conseguirem enxergar o que há de errado com elas próprias.
Olhei atenciosamente para o homem que cavava, esquadrinhei cada movimento, fiz uma síntese mental de toda a dor que eu podia sentir no seu riso, e ri: um riso louco e desesperado, um riso de quem perdeu completamente o juízo, eu ri, como se tentasse espantar alguma coisa; ri até as lágrimas descerem dos olhos, um riso de criança triste, sem teto e sem esperança, eu ri.